segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

VIRADA


Pode acontecer de várias formas. Talvez a voz não saia e eu apenas olhe para o céu e tenha no pensamento aquilo que espero de bom. Ou posso ser contagiado por uma energia inesperada e comece a gritar em êxtase. Quem sabe um abraço amigo venha me trazer ao mundo para sentir quão boa é a vida. Não tem como prever.

A virada do ano nada mais é do que a passagem de um dia para o outro. De um mês para o outro. De um ano para o outro. Algo muda? O céticos dizem que não.

Eu acredito que ao termos um número extraordinário de pessoas vibrando energias positivas ao mesmo tempo, geramos no universo uma revolução impossível em qualquer outra época do ano. Crer no bem deveria ser obrigação eterna, porém cansamos e desistimos de nossos próprios anseios, tornando a vida um arrastar do tempo.

O reveillon por alguma razão muda esse panorama. Com a aproximação do final do ano, rezamos para que chegue logo o dia 1 de janeiro, como se ele nos trouxesse um novo rumo.

Mudar requer tempo, coragem, disposição, força de vontade e antes de tudo, auto-análise. Por este motivo a grande maioria das promessas de ano novo não vingam.

Creio que ao reunir no coração pedidos sinceros de algo novo e bom, fazem o mundo conspirar. Aos incrédulos o meu pesar.

Penso no bem.

Faço o bem.

Vivo o bem.

Mesmo que a felicidade seja algo que vai e volta, meu estado de espírito tem saldo altamente positivo. Essa luz que emana de cada um, mas que poucos são capazes de perceber, é o que nos diferencia dos demais. Levando essa luz aonde for, o mundo a nossa volta, seja na virada ou em qualquer época, é capaz de mudar. Mudar o próximo e a nós mesmos.

Mude se achar necessário. Pense que sempre é possível melhorar. Mas não renegue as coisas boas que já conquistou até então, pois somos o resultado do bem e do mal de tudo que passamos. Somos uma grande experiência. Devemos nos orgulhar dos erros tão quanto dos acertos. Eles também fazem parte de nós.

Então já está decidido. No grande momento da virada de ano, quando estiver concentrado em meus pensamentos particulares, algo estará garantido:

“Que eu prossiga sendo o erro e o acerto. E que eu me mantenha alerta e busque dentro de mim o melhor a se mostrar ao mundo.”

domingo, 26 de dezembro de 2010

REGRAS


Descobri que as leis que regem a minha vida não são necessariamente as mesma aceitas e ditadas pela sociedade. Sou feito de uma ética torpe, porém saudável dentro deste meu mundinho particular. Um universo paralelo onde posso ditar regras, aceitar sugestões, intervenções...
O amor, a aventura, a busca desenfreada pela felicidade são os caminhos escolhidos para um destino onde tudo é mutável, menos a certeza do sucesso.
Nasci diferente, cresci eu, fui mostrando aos poucos essa cara cínica e sorridente como quem já conhecesse de tudo um pouco, pensando que os domínios das leis do mundo próprio já me fizessem um cidadão dentro do mundo real, aquele em que todos aceitam essas outras leis do qual eu renego. Mas não. Na "vida real" tenho que parecer ser o correto. Sou ator nessas horas. Assim vou levando. Às escondidas, vivendo com meu avatar, sou eu de verdade. Quase um mutante. Achando dessa forma, um caminho mais sincero para a felicidade.
Não vivo sozinho. A vida sem companhia não faz sentido. Outros me acompanham na jornada. Vivem das mesmas leis. Onde a lei é não ter regras. Onde a regra é ser feliz. Não chegamos à inconsequência. Temos nossas responsabilidades. Porém somos leves no pensar, no pisar, no aceitar, no viver. Sejamos leves e livres para que os bons ventos possam nos carregar pelo céu, sem destino, com surpresas.
Nas ruas é fácil nos identificar. Carregamos estampado no rosto um sorriso diferente. Um olhar profundo e sincero, um coração que bate forte, levantando a camisa. Somos alimentados de uma esperança que vem não sei de onde e que nos dá a energia necessária para voar.
É difícil ser "dois" ao mesmo tempo. Há inveja daqueles que não são como nós. Pois a felicidade é bem raro. Muitos acham que a possuem. Vivem em um mar de incertezas, sem saber quem são seus verdadeiros amigos, sem fazer o que gosta de verdade, sem dar uma gargalhada de verdade, sem viver de verdade. Vivem, se pudermos chamar isso de vida, aquilo que foram ensinados a viver e não o que desejam realmente. E sabem porque? A grande maioria não foi ensinada a desejar. O desejar é complexo. Requer auto confiança e força de ação. Poucos conseguem se soltar das amarras e correr atrás de algo desejado.
Assim se passam dias, meses, anos...tudo dentro das regras gerais. Sem coração. Sem sentimento. Sem nada.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

VI E VIVI


Este ano estive no Prado(BA), São Paulo(SP), Santos(SP), Campinas(SP), Picinguaba(SP), Paraty(RJ), Florianópolis(SC), na minha Cidade Maravilhosa(RJ), Carapebús(RJ), Cabo Frio(RJ). Viajei menos que o ano passado, mas vivi tanto ou mais aventuras e desventuras. Emoções inimagináveis. Devaneios. Sonhos pensados e realizados. Me joguei no abismo sem medo da queda. Quebrei a cara, me levantei. Sorri, ri, gargalhei, sofri, chorei, me emocionei. Escrevi, escrevi, escrevi. Atuei ao lado da irmã e da avó. Me vi na tela grande. Transgredi alguns desafios do espiritual. Vi e vivi mudanças impensáveis há um ano. Sou o mesmo e tão diferente simultaneamente. Santos dias de transformação intensa.

Vi uma criança linda nascer. Vi o amor nascer. Vi sonhos adormecerem. Vi meu time campeão. Vi a vida por outro ângulo. Vi um casamento inesperado e belo. Vi ir, vi voltar, vi ir novamente. Porém mais forte do que ver, foi sentir. Saltando de sentimento em sentimento, sorvendo cada um e fazendo disso a minha grande escola.

Fui adulto, fui adolescente, fui criança. Fui todos mesmo sem não ser.

Não foram as promessas de reveillon que me moveram ao longo de 12 meses. Foi o despertar de cada manhã, quente ou gelada, anunciando um novo desafio.

Fui paulista, permanecendo carioca. Amei sê-lo. Procurei ser ao máximo. Fui. E assim fui feliz também.

Madrugadas em claro. Felizes.

Encontros que pareciam às escondidas. Histórias minhas que guardarei cá dentro.

O que poderia me definir?

Viva seu sonho, por mais absurdo que ele seja. E se não der certo, volte, regrida, mas traga consigo a paixão pelos tempos vividos. Pois é isso que te tornará um homem melhor e feliz.

Obrigado, 2010.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ATAQUE RELIGIOSO



Houve um tempo em que as realizações artísticas ou até mesmo as de entretenimento, como as novelas, eram capazes de mudar os rumos políticos e sociais. Estas eram carregadas de significados e abasteciam de esperança os corações brasileiros ávidos por mudanças. Eram outros tempos e as exigências eram outras. Não que a população fosse mais politizada. O mundo necessitava da política e o povo acompanhava esse fluxo. Hoje um filme é apenas um filme. Uma novela é só uma novela. Nada mais que isso. Serve apenas para entreter. As produções engajadas atingem uma parcela ínfima e não repercute nos porões da sociedade.

No entanto, algo se manifesta em corrente contrária nos últimos anos. A religião, tema tão delicado, vem sendo a mola propulsora de uma mudança sensível. Filmes como “Chico Xavier” e “Nosso Lar” e novelas como “Escrito nas Estrelas” começam a tocar no assunto espiritismo. Em um país conhecido como a maior nação católica do mundo é de se espantar. Mas o país sempre foi ligado ao lado espírita. Vide as religiões de matriz africana tão difundidas por todo o território.

Porém no últimos 20, 30 anos vem crescendo, principalmente nas classes de baixa renda, o número de evangélicos das ditas igrejas pentecostais. Estas utilizam como propaganda o ataque às religiões afro, pois as mesmas são populares dentre o público alvo das pentecostais. Estas instituições evangélicas incitam uma guerra religiosa com o propósito de angariar mais fiéis e assim aumentar sua receita. Já que não se baseiam em princípios religiosos e sim na arrecadação financeira, auxiliada por uma lei que as isenta do pagamento de impostos.

O espiritismo vem como um escudo para amparar as religiões afro-brasileiras como a Umbanda e o Candomblé, já que possui uma estética mais palatável aos gostos católicos e agnósticos. A Umbanda e o Candomblé são muito “negros” para o Vaticano. Já o espiritismo de Kardec e Chico Xavier se mostra mais brando e próximo, atuando como intermediário.

Tudo isso faz parte de uma revolução que está apenas se iniciando, onde o animal que se sente ameaçado ataca o seu opositor. Vale ressaltar que quem criou este conflito foram os pentecostais, que tentam ferrenhamente “re-evangelizar” o mundo.

Por isso ressalto a importância de manifestações culturais que não só divertem o público, como também lançam em questão temas tão necessários à discussão. A mobilização feita por essas produções mostra que os espíritas brasileiros e simpatizantes existem e são muitos, só que não batem de porta em porta para dizer quem são. Pois religião é busca espiritual interna e não máquina de propaganda político-financeira.

Quem muito teme é porque não confia em si. Bate sem saber porquê e erra pois está no escuro. Sem luz não se alcança qualquer objetivo.

Axé!

Salve São Cosme e São Damião! Salve os Erês! Salve Crispim e Crispiniano! Salve Heleninha! Salve Conchinha de Prata!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

CRIMES E HISTÓRIAS


Crimes de diferentes tipos ocorrem a todo momento. Atingem as classes baixa e alta, em qualquer canto. O que diferencia a repercussão de cada caso normalmente está ligado à capacidade do autor em driblar as investigações. Um crime por mais cruel que seja, se é desvendado com facilidade, não desperta o maior interesse da sociedade. Mesmo que o acusado seja uma pessoa famosa. É claro que juntando todos os agravantes em apenas um caso(celebridade, crueldade do caso e mistério), fazem um crime se tornar um fenômeno. Porém o que move o ser humano são as histórias. São elas que fazem milhões de pessoas sentarem em frente à TV para assistir novelas diariamente.

Não sei como isto move outros povos, porém no Brasil, além da paixão pelas histórias fictícias, multiplica-se este interesse quando algo às vezes impensado para um roteiro, aparece diante das telas ou páginas de jornais como parte do mundo real. Daí surgiu o fenômeno BBB. Ver pessoas sem roteiro, vivendo e sendo observadas 24hrs por dia. Sofrendo. Rindo. Amando. Brigando. Lutando. E principalmente: se superando.

No entanto, nada atrai mais a atenção do que a morte. É difícil compreender as motivações para tal. A grande maioria das pessoas não consegue se imaginar em um momento de fúria tamanho, que permita tal atitude. E a raiva que surge por pensar no sofrimento da vítima motiva revoltas de toda parte. Até onde pode ir o ser humano? Do que somos capazes?

Então voltamos à questão do enredo. A possibilidade de pagar bons advogados e subornar testemunhas faz com que a dificuldade de se chegar a verdade dos fatos aumente. Cada passo dado pela investigação é acompanhado com ardor pelos espectadores. E aí surge a novela da vida real. A espera por novos capítulos. A torcida pelo mocinho e raiva pelo bandido. Diferente das novelas, há a possibilidade de questionar, alcançar um objetivo em comum. Surge a esperança de se fazer a justiça que falta em nossas vidas. Sonhamos uma vida com sentido. Pensamos em dias menos dolorosos.

O tempo passa. As provas aparecem. Vem o julgamento. Chegam à sentença. E como uma novela que alcança seu último capítulo, no dia seguinte é esquecida. Já queremos uma nova história para nos motivar. Percebo que o homem não pensa em justiça. Ele quer uma história que o mova. E assim somos desde crianças, à espera dos contos de fadas, dos desenhos animados. Queremos histórias que não sejam as nossas, pois sentir a realidade do que somos é mais doloroso do que olhar o sofrimento alheio.


Imagem: Guernica. PICASSO, Pablo.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

ÁFRICA- PARTE 3



Como uma gota de tinta em papel branco, a África foi deixando suas marcas pelo mundo. O êxodo faz parte não da cultura, mas da necessidade de povos que sofrem o desastre da globalização.

Primeiro alguns foram retirados de suas terras, em uma imigração forçada. Pedaços africanos amputados foram espalhados pelos países colonizadores. A fácil identificação através da cor da pele, fez com que a marginalização não estivesse necessariamente associada à essência pobre ou cruel, mas sim ao que estava ao alcance dos olhos. A pele negra sempre esteve aliada ao sujo, desprezível, baixo, ignorante, repugnante, primitivo. Todos adjetivos que foram se perpetuando pelo imaginário coletivo. Segundo Goebbels uma verdade tantas vezes contada, acaba virando verdade. E aí se reforçou o instinto racista.

Em uma Europa multifacetada vemos a marca africana impregnada em cada canto. Negros franceses, ingleses, holandeses, de todas as nacionalidades. Há também os africanos marroquinos, argelinos, que são de identificação mais complicada. Essa invasão assusta o continente. Temem perder a identidade européia, querem manter a pureza de Hitler.

O que dizer de uma França que recebe por ano um número três vezes maior de imigrantes do que de nascimentos em seu território? O presidente Sarkozy(de origem húngara) quer expulsar do país o maior número de estrangeiros ilegais possível. Talvez não saiba que esses árabes, africanos, asiáticos ou até mesmo do leste europeu, são parte fundamental da mão-de-obra francesa. Um dia sem esses imigrantes levaria o país à bancarrota.

Só que o problema é muito mais profundo. Assim como estamos acostumados no Rio de Janeiro, as abordagens policiais na caça aos ilegais(Sans Papiers) são feitas através da identificação visual. Isto é, negros em sua maioria, são os escolhidos para passarem pela inspeção policial atrás de documentos que provem ou não a ilegalidade destas pessoas. Onde está a igualdade, a fraternidade, a liberdade?

Os europeus tornaram a África um local muito difícil para se viver, e hoje, que os negros por necessidade, tem de sair de seus países em busca de algo melhor, não encontram nos seus algozes algum alento. Porém esta invasão ao contrário se tornou irreversível. A Europa pintou em sangue a África. E agora em negro, os africanos vão espalhando sua cor, sua identidade, sua vida.

Em busca da liberdade prometida, esses negros vão vivendo então, presos nos guetos e subúrbios do primeiro mundo. São eles os pedreiros, faxineiros, seguranças, prostitutas... Humanos, porém marginais. Lembrados no esporte, na música, dificilmente na literatura, pois se a eles lhes for concedido o poder da palavra, transbordarão rios de prantos e verdades que o mundo não está preparado para receber. O silêncio dos africanos é como uma mina terrestre à espera de sua vítima. Possui um poder devastador, só precisa ser acionada.

O pensamento e o direito à palavra salvarão os homens marginalizados do desastre da segregação. Por alguns instantes podem fechar os olhos para não ver, porém, hoje, o mundo é recheado de África. Cada ponto escuro ao nosso redor significa luz. A luz da alma negra.

sábado, 12 de junho de 2010

ÁFRICA- PARTE 2


É tudo muito recente. As imagens passam repetidamente em todos os canais de TV do mundo. Pessoas olham estáticas, abismadas com a alegria de um povo que sofre tanto e ainda canta e dança. Celebra. Assim é a África. O pesar pode vir através da música em pranto, nunca em silêncio. E a celebração vem embalada ao som do coração, que bate tão forte, que se faz ouvir por todos os cantos.

Não só ouvidos ficam abismados. Olhos não crêem no que vêem. Tantas cores misturadas. Seria fora de moda aos olhares italianos, talvez. Porém naquele contexto combinam tanto, fazem todo sentido de existir. O que vestem diz muito sobre o que são. Um povo que carrega a alegria nas cores de suas vestimentas.

A pele também sente a diferença. No toque. No afago. No abraço apertado e amistoso. Não há receio de tocar o outro. Esta é uma forma comum de dar boas vindas. E talvez aí esteja o maior espanto. Nas terras acima do Equador, o contato é visto com ressalvas. “Por que temer?” Dizem eles. São todos irmãos, independente de cor ou credo.

Provavelmente cheiros e gostos causem igual estranhamento. Não o sei. Porém depois de tantos anos de abandono e indiferença, é com perplexidade que o mundo visita a África. Com a mesma perplexidade que portugueses, franceses, ingleses, holandeses, espanhóis e tantos outros tiveram há mais de 500 anos atrás. Quem é esse povo? Que ameaça podem ser? O que pensam? Como vivem? Incrível como depois de séculos as perguntas continuam sendo as mesmas. Depois de tanto tempo ninguém teve a perspicácias de decifrar um povo tão simples, tão humano em sua essência. Perderam valiosos ensinamentos, com certeza.

Talvez agora, possamos reescrever os livros de História. Preenchendo lacunas antes incompletas. Escreverão que na terra onde nasceu o Homem, existem pessoas que pensam, sentem, falam, se expressam e não apenas irão falar de primitivos em busca de uma salvação que nunca virá.

O que me entristece é perceber que o povo africano precisa se auto-identificar para que a partir daí, cresçam. Isso é extremamente complicado. Criar identidade para buscar caminhos é tão difícil quanto gerar a paz no mundo. Porém não impossível. O porquê de tanta demora em encontrar tal resposta se deu por conta de anos de cegueira e surdez impostos pelo dito 1° mundo. Hoje, de olhos abertos e com a voz solta, este povo canta e causa espanto. O que antes era apenas lágrima silenciosa, hoje se tornou grito de alegria. E o povo que esteve escondido em seu gueto, agora pode mostrar seu sorriso, seu rosto, sua alma.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ÁFRICA- PARTE 1


Uma pergunta martela a cabeça: o que é a África? Ou mudando o português: o que “são” a África?

Diante de uma questão tão complexa vou buscando resposta para um enigma que talvez a Humanidade ainda leve muitos anos para descobrir. Olho para mim e vejo muito dela, ao mesmo tempo em que tão distante, não posso dizer o quanto dela possuo em mim.

São muitas Áfricas para procurar, estudar. Tento entender, tento saber mais sobre mim mesmo.

É errado falar do continente africano como uma coisa só. São 53 países, quase 1 bilhão de habitantes e milhares de etnias, línguas e dialetos. Diversos tipos de colonizações perversas, brigas étnicas, guerras, guerrilhas, ditaduras. Tudo isso no lugar onde nasceu o Homem.

A imagem da pobreza é a primeira coisa que vem à cabeça quando penso na África. A imagem de pessoas subnutridas corre o mundo e leva o que há de pior aos 4 cantos. É muito pouco, quase nada, é injusto com culturas tão ricas. Porém alarmante.

Não podemos cair no erro de pensar que lá só existem pobres coitados em busca de auxílio, mas a situação atual se deve a séculos de exploração européia, que não por acaso, são a origem da maioria das entidades de ajuda humanitária que se espalham por todo continente. Algo como um pedido de desculpas muito atrasado.

Uma das principais estratégias utilizadas era inflamar o conflito entre etnias para enfraquecê-las e subjugá-las. Os conflitos que vemos hoje, são reflexos disso. Mas não há como tentar solucionar o problema africano pensando nele como uma coisa só. Cada país possui sua particularidade e buscar a união entre povos que se odeiam(sem motivos) por séculos é uma atitude inocente.

O Mundial de futebol na África do Sul é uma oportunidade para que os olhos do mundo enxerguem um pouco das súplicas africanas. A atenção pode gerar bons frutos. Principalmente no país que gerou Nelson Mandela, o homem que passou 27 anos na prisão, para depois assumir a presidência da nação e acabar com o Apartheid.

É ilusório pensar que o Apartheid acabou, mas passos foram dados.

Vou sendo levado de um assunto a outro e percebo o quanto fico motivado a discutir. Preciso de muito ainda. Preciso de mais. Preciso me entender. Entender a mim, à África, o Brasil. Por um elo forte, tudo está ligado. Faço parte dele. Esta é minha diáspora às avessas. O sangue do sofrimento africano corre por minhas veias, mas nelas também trago a energia e alegria que criaram o mundo.

domingo, 6 de junho de 2010

BOLETIM AFROBRASILEIRO


Neste ano de Copa do Mundo e eleições, o Boletim Afrocarioca não poderia se abster. Esses assuntos que tomam conta da vida do brasileiro de 4 em 4 anos estarão aqui presentes. Desta forma, nos tornamos o "Boletim Afrobrasileiro".
Na próxima sexta(11 de junho) a Copa do Mundo da África do Sul dará seu pontapé inicial. E aqui no nosso blog teremos a oportunidade de debatermos diversos assuntos em relação a futebol, geo-política e diversão. Ánalise dos jogos, dos adversários, assuntos africanos, tudo através da liguagem que estamos acostumados aqui no Afrocarioca.
Espero poder contar com a colaboração e comentários de vocês.
Abraço,

Ernesto Xavier

quinta-feira, 27 de maio de 2010

CADÊ?


“Onde foi parar tudo?”

Acordei com essa frase, que de alguma forma tentava me dizer algo.

Tudo parece ter sumido e não sei por onde começar a procurar.

Onde foram parar os anos perdidos?

E os sorrisos que dei? Já deixaram a boca, a face, o dia, menos a lembrança.

Onde estarão meus amores? Nem sei se os tive. Já que estou questionando, então é por que nada foi amor. Foi outra coisa sem palavras para descrever. Paixão, talvez. Amor nunca.

Onde estará o fogo? A brisa que batia leve sobre a pele ressecada pelo sal da praia, onde estará?

Por onde caminham meus ídolos? Seres que nasceram para servir de exemplo, para me dar alento, para me fazer sentir significante e significado.

Perdi as coisas ou elas que se perderam de mim? Perdemo-nos todos, em meio a visões turvas, embaçadas pelo calor do inferno terreno.

Colírios de todos os tipos ainda não foram suficientes para me fazer enxergar. Onde foi parar tudo?

Onde fui parar? Eu mesmo, neste caminho tortuoso, sem mapa, gps, sinais ou simplesmente migalhas de pão a demarcar o caminho percorrido. Nada.

Onde parei? E por que parei? Quero prosseguir. Parar não é meu forte. Nasci para o movimento, para a luta.

Ao ficar parado, todo o resto foi se afastando de mim. Não me perdi, pois nunca soube onde estava. Porém agora, ao ver que por um tempo perdi aquilo que quero, resolvi descobrir o paradeiro. De quê? De tudo. Das palavras, das emoções, do brilho no olhar, do sorriso e do sangue quente correndo neste peito pulsante.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

CICLOS


Que a vida possa ainda estar recheadas de suas surpresas. E que os ciclos que ainda estão por vir, nos tragam bons momentos, que depois serão apenas saudade. E é disso que é feito a vida: de momentos vividos e as lembranças que eles trazem.

No final de tudo, chegamos a conclusão de que a vida só faz sentido quando vivemos para construir e cultivar boas relações pessoais.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

COMBATA


Tudo que falo ou penso sobre mim pode ser nada mais do que um parâmetro que criei de um ser fictício, que talvez esteja a léguas dessa realidade que ao mundo se apresenta. Sou a mentira de minha própria história. Um ser que não habita minha vida. Alguém desconhecido aos meus olhos. De quase nada posso ter certeza, muito menos do que sou, do que penso, do que sinto. Nada é de verdade. Vivemos de acordo com regras que estabelecemos para uma vida tranquila, quando na verdade abominamos estas regras e queremos o rompimento de tudo que se mostra certo e sereno. Queremos o erro, buscamos o caos, porém aceitamos o nada como consolo. Tratamos tudo como se o amanhã trouxesse algo melhor, que irá nos tirar do marasmo ou do inferno.

Viva seu inferno de forma intensa. Busque ser feliz mesmo na derrota. Seja breve, mas firme! Diga ao menos uma vez que viveu. Não pense que a aposentadoria algum dia irá te trazer a paz tão desejada. Essa paz pode vir muito antes disso e talvez bem diferente do que você imaginava. Aguarde o momento certo, mas não ache que saberá quando ele chegar. Ele chega e você simplesmente deverá estar pronto para aproveitá-lo. A vida é assim: a oportunidade vem de repente e vai embora da mesma forma. Tudo na vida é breve e como já disse: seja firme!

Note que as coisas que nos pareciam essenciais ontem, hoje são apenas piadas de um passado remoto. Então pense que suas prioridades de hoje também podem ter o mesmo destino. Avalie com mais cautela o que julgas se primordial.

Combata a ansiedade como a um tumor. Tenha força para extraí-lo de si. Sinta o vazio que isso vai te deixar e pense nisso como um peso que não te pertence e que só servia para atormentar momentos de retidão e serenidade.

A vida é menos complicada do que imaginamos e exatamente por isso a tornamos complexa. É tão difícil entender a simplicidade humana, que para isso criaram a psicanálise. Portanto não se sinta o ser mais difícil do mundo.

Estamos todos longe de um consenso a respeito da explicação da existência do ser humano. Pode ser que a resposta esteja em não existir porquê. Tudo é por que é. Aceitemos desta forma. Assim é a vida: um mar de incertezas, onde nadamos sem saber para onde, por que e para quê. Onde o infinito de possibilidades nos angustia, porém traz sempre a esperança de um recomeço, para onde vamos ser felizes e completos.


Obs.Mais um texto dos antigos arquivos.

Imagem: KLIMT, Gustav.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

LABIRINTO


Perco-me facilmente dentro de meus próprios labirintos. Aqueles que criei para salvar a vida de uma linearidade angustiante. Agora procuro saídas complexas para caminhos simples. Cercado por paredes desconhecidas que me sufocam dentro de mim mesmo. Já não sei onde estou e para onde quero ir. Não sei se o que mais importa é o caminho ou o destino. Tento traçar planos, estratégias para fugir daquilo que é meu acompanhante e guia: o destino. Seria ele já traçado antes dos fatos?

Um facho de luz vem tocar a pele e assim faz acordar a dormência de minha alma. Uma alma frágil que carrega um corpo forte. Aos poucos o clima nublado de dias pesados vão se esvaindo e dando lugar ao esclarecimento. Mas ainda me encontro perdido dentro do labirinto. Ele faz parte de um realidade surreal, da flacidez de um espírito sólido. O mapa dessa história só será desenhado em remotas lembranças no futuro. A nostalgia irá informar quem fui. Só ela saberá de meus pesadelos, só ela cuidará dos meus pensamentos.

Um dia serei apenas saudade e histórias. O que tiver de mim espalhado por essa cidade serão apenas fragmentos do que fui realmente. Pelos olhos de uns o bem-feitor de histórias picantes, para outros o indiferente a tudo que o cercava. Nada poderá dizer com exatidão de detalhes aquilo que realmente fui e passei. Serei visto como um quebra-cabeças com peças faltando, até que o dia em que mais nada restará por contar. Estarei fadado ao esquecimento? Antes preciso achar a saída do labirinto. Para depois me perder novamente em outros caminhos tortuosos.


foto: SALGADO, Sebastião.

terça-feira, 27 de abril de 2010

DESPRETENSIOSO


Às vezes é bom ficar sozinho. Apesar de ter um sentido ambíguo, na verdade falo desta palavra em todos os seus sentidos. O agito das presenças em nossas vidas não nos permitem a reflexão. É necessária a ausência. A ausência do tudo associada ao preenchimento calmo e leve do nada.

Se permitir a despretensão. Poder apreciar o vazio daquilo que foi feito para ser simples, dando oportunidade para uma felicidade peculiar: a da auto-apreciação. Se divertir consigo. Tendo a companhia de um livro, filme, revista ou apenas o som contínuo do ventilador de teto. São prazeres insuperáveis da vida a “um”.

Gosto de caminhar pelas ruas do Rio de Janeiro e observar tipos, inventar histórias a partir de rostos novos. Imaginar o que se passa na cabeça de um estranho sem ter que manter contato com ele. A doce descoberta da imaginação.

O Rio é a cidade que nos permite chegar a estes pontos. Imaginar. Criar. Refletir. Concluir. Admirar, sorrir e seguir em frente. Saber que estamos no ponto mais belo do mundo e tratar isto como a coisa mais normal que existe. É normal ser carioca. É normal ser feliz sem saber porque andando pelo Rio de Janeiro. Estar envolto pelo belo nos traz bons fluídos. Por isso caminho sozinho, sem querer ser incomodado. Quero ter o egoísmo de guardar estes momentos só para mim. São meus momentos.

Sou capaz de perder um ônibus só porque vi alguém conhecido nele e não quero conversar com alguém. Permito-me o luxo de viajar só e desfrutar de pensamentos meus...pensamentos são individuais. Não nasceram para serem compartilhados simultaneamente. Só transmitimos aquilo que fica na superfície oca das palavras. A complexidade dos sentidos de nossos pensamentos ficam guardados para nós. Então me canso por ter que trocar superficialidades. Prefiro me omitir. Trivialidades me cansam.

Depois, inevitavelmente, as pessoas voltam a nossas vidas. Mas já estamos renovados. Tirar férias da raça humana faz bem à saúde.


(Texto antigo que recuperei)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

REFAZENDO


Parte de mim quer mais. Outra parte nada quer. Coisas mínimas, mas de grande efeito para este corpo às vezes cansado da angústia. Diante da efemeridade que assola as paixões, de todos os tipos, vejo cada pedaço sendo jogado fora, aos poucos, para que não perceba a sua falta quando não estiver mais ali. Uma saída brusca pode causar traumas, reviravoltas, arrependimentos inúteis. Deixar o descartável para trás é uma arte.

Pequenos amores vão sendo descartados pelas calçadas. Acabam se juntando ao amontoado de lixo que vai entupindo bueiros pelas vielas. Até o que pensamos ser amizade some no ar, desvanece no espaço, vira pó ou evapora. Não são amizades, então.

E aquela saudade vai ficando lá dentro, gemendo baixinho, porém sem resmungar, pois não é dotada desses defeitos regados a ciúmes ou cobranças. Mas sofre. Uma nostalgia de tempos esquecidos. Relegados a algum espaço desconhecido do cérebro, onde a memória tem dificuldade de vasculhar. Auto defesa dessa cabeça cheia de pensamentos e histórias pra contar e por contar.

Amando, re-amando, relembrando, refazendo, calando, sofrendo pelo que ficou por dizer, pelas pessoas que foram sendo descartadas ou me descartando através do tempo. Sentimento sem nome, mas que faz doer. Sentimento sem forma, no entanto pesado como chumbo. Sentimento invisível, sorrateiro, instigante, sem pena. Vai arrancando pedaço por pedaço daquilo que guardei para não mais ver. Faz de mim uma criança indefesa, sem palavras para responder, sem lágrimas para expor meu pesar. Leva quase tudo. Pode levar. Ainda preservo o que tenho de essencial onde ninguém pode tocar.

Para parar de pensar nisso, transformo meu silêncio em música. Busco rimas bem resolvidas, melodias só ouvidas por aqueles que sabem escutar o som que vem do coração. Tento fazer da arte o meu refúgio, da escrita a minha companheira e da memória um aconchegante lar. Serei eternamente um amante nostálgico. Carrego comigo cada amizade, amor ou sentimento bom que queima no peito.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

LINDO MUNDO


As gotas batem na janela produzindo sons conhecidos, que vem invadir essa noite fria e calma. O vento uivoso atravessa pelo céu de nuvens baixas e vela meu sono. Não há um silêncio absoluto, apenas a natureza conversando baixinho. Entre o balançar das folhas das árvores vou ouvindo confidências deste mundo em prantos. Sou bom ouvinte. Aprendi com as flores a ser paciente. A esperar o momento certo.

A alterada Lua, escondida em mares de nuvens, se recosta sobre o cinza e lhe empresta um pouco de luz. Ela quer se aproximar do mundo, pois se sente solitária fazendo a guarda desta terra tão confusa. Hora bela, outra raivosa. Esta Lua que de tão feminina, oferece seu dom de proteção sem nada exigir em troca. É vaidosa pois escolheu a noite para expor sua beleza. Em dias de pouco sorriso como este, faz do escuro sua morada. Não quer conversa.

Este mundo, vasto mundo, mal dito pelos caminhos que dizem escolher. Coitado. Nada pode fazer...é um joguete nas mãos dos homens. Passivo eu não diria, pois reage quando necessário, porém incapaz de guardar mágoa, mesmo tendo motivos para isso. Ninguém pergunta para ele seus desejos. Ninguém ouve as angústias deste mundo, que já não quer falar mais, grita.

O chão lavado de tanta água, reflete estrelas, como se estivessem caídas, brilhando, neste mundo de cabeça pra baixo. A chuva se desfaz em rios que nunca terão nome. Amanhã já não existirão mais. Mas a história permanecerá forte na memória daqueles que provaram sua força.

Lindo mundo, vira mundo, cheio de rebeldia e surpresas. Hoje terrível, amanhã acolhedor.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

REFERÊNCIAS


Começo citando Pedro Juan Gutierrez:

"É totalmente humano, então, ser um ser nostalgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, para a nossa sorte, a saudade possa transformar-se, de algo depressivo e triste, numa pequena chispa que nos dispare para o novo, para entregar-nos a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas que será diferente."

Para poder continuar...

Pela janela posso assistir ao balé das gotas espessas da chuva que caem e se movimentam ao bel prazer do vento. Assim como elas, também vou sendo jogado de um lado para o outro sem poder decidir onde ficarei. É claro que possuo força para mudar o curso, mas a correnteza às vezes é mais forte do que podemos suportar.

Tive que sair pelas ruas em meio ao vento, a chuva, caminhando com os pés no mato molhado. Nada disso me incomodou. Fui pensando na vida. E percebi que tenho muito mais pensado do que feito algo por ela. Vivo em tempos de cólera, como no livro de Garcia Márquez. Tempos difíceis de se entender, de aceitar. Não sou eu, mas o mundo que está em desatino, sendo sarcástico, cáustico com seus moradores.

O pensamento viaja para bem longe, onde os problemas que carrego talvez não possam alcançar. Tenho o corpo leve e liberto de qualquer influência negativa que possa atingi-lo.

“Muitos anos depois, defronte ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía teria lembrado daquela remota tarde em que seu pai o levara para conhecer o gelo." Assim como Aureliano Buendía busco algo de bom na lembrança que me faça esquecer a realidade diante dos olhos.

Sinto-me cansado. Durmo para poder sonhar. Sonho para me refugiar em lugares onde nunca estive. Minha alma é livre. Dá voltas no mundo em segundos. Queria ir junto.

-Me leva?- suplico.

-Calma. Você ainda vai comigo para tantos lugares.

-Mas aqui tem sido tão chato.

-Eu sei. Mesmo aqui, estou te acompanhando sempre.

-Então porque não me tira dessa?

-Por que ainda não é a hora.

Os dias tem caminhado lentamente, como se “Creep” do Radiohead fosse a trilha sonora do universo. Difícil mudar a faixa do disco. Parece que emperrou.

Posso tomar a liberdade de ser Gregor Samsa?, que “despertou uma manhã na sua cama de sonhos inquietos e viu-se metamorfoseado num monstruoso inseto". Não serei reconhecido e não me reconhecerei. Vou voar. Vou subir. Ver a Terra com outros olhos, sem a responsabilidade de responder as perguntas. Questionamentos meus. Respostas que não sei dar, vida que não sei explicar, sentido sem direção que não sei achar.

quarta-feira, 31 de março de 2010

MARCAS


Quero ler meus textos daqui a 10 anos. Observar como um leitor comum estas palavras tão significativas para mim hoje. Terei a oportunidade do distanciamento. Pode ser que eu ria e me veja como um idiota desesperado, temendo um futuro, que depois se mostrou tão diferente de todas as expectativas construídas anteriormente.

Nada pode tirar meu entusiasmo por um destino incerto. Sofrerei as conseqüências das angústias de outrora? Ou serei alguém mais forte, marcado pelas cicatrizes expostas no corpo? Entre uma luta e outra, vou vendo presente e futuro sendo construídos a partir de tropeços, topadas, corridas e escaladas. Sinto-me em uma pista de obstáculos, sem um mapa para me guiar, mal orientado pelas placas. Se o caminho que sigo me levará ao lugar que desejo não há como saber, porém sigo. Independo das desventuras que possam passar.

Não quero ser tachado de covarde. Tenho a coragem no sangue.

A sede da vontade que tenho pressiona o tempo que levo para saciá-la. Pela sincronia dos astros vou buscando soluções. Mas a força que faço para parecer, me tira a energia de ser. Assim revolto-me e jogo para os céus todos os rogos. Então sinto uma paz tomar conta do coração e vejo que as preocupações nada mais são do que saudade do que tive.

Neste futuro não tão distante poderei encontrar as resposta para os meus questionamentos presentes. Porém, talvez, quando chegar este momento, eu esteja preocupado com os questionamentos de então. As respostas já estarão intrínsecas. E este ser de hoje ficará sem uma palavra de consolo.

Não serei julgado, nenhuma palavra constará em minha sentença. As marcas na pele serão meu livro aberto. Somente elas poderão dizer quem fui e quem sou.

segunda-feira, 29 de março de 2010

CACOS


Deixei de catar os cacos no chão. Eles já não machucam mais meus pés e não me incomoda vê-los ali. Cada pedaço que larguei antes fazia todo sentido, porém hoje, ao tentar reuni-los, não me parecem nada. Desconheço-os.

Quanto tempo leva para esquecermos do passado? Talvez a eternidade. Mas para que tudo não nos afete mais, podem levar segundos. Mesmo que decepções sejam traumáticas, entender que tudo é efêmero dá sentido ao caos da vida.

Acredito no não dito, nas palavras que só são expressas através de olhares, sensações... O que fica guardado talvez mostre muito mais de nós do que o mundo possa enxergar a olho nu. Muitas vezes ficamos nos perguntando sobre a mudança de atitude das pessoas em relação a nós. Pode ser surpreendente descobrir o quanto os outros guardam apenas para si sobre o que pensam e que nunca tiveram a coragem de dizer. E a partir disso surgem seres tão estranhos a nós quanto alguém que jamais trocamos alguma palavra. Podemos estar convivendo com pessoas que na verdade não sabemos quem são. Essa é a realidade: falta sinceridade a grande maioria das pessoas. Somos criados para a covardia e não para a difícil tarefa da exposição. Se expor não quer dizer perda de privacidade e sim ser sincero com aquilo que se acredita. Quem somos, na realidade, está mais ligado ao que sentimos do que ao que falamos. Mas o mundo nos reconhece pelo que mostramos a ele. E ao guardar para si nossas principais características, criamos um personagem para apresentar ao ambiente externo.

Temos medo do julgamento, medo de errar, medo da felicidade. Não nos permitimos ser felizes por receio da tristeza. Eu diria pavor. Preferimos a estabilidade do sorriso simples à permissão da gargalhada.

Tantas declarações não feitas, tantas palavras não ditas, um universo de pensamentos, que ficaram pelo caminho e nunca alcançaram seu destino. São palavras abortadas, que foram geradas, mas não viram a luz. Tudo por medo da interpretação. A partir do momento em que as digo, as palavras já não me pertencem mais. O que resta para mim são os sentimentos que elas carregaram.

domingo, 14 de março de 2010

EVOLUÇÃO


Não adianta o auto-flagelo, culpar-se, insultar-se, pois os erros não serão corrigidos com medidas drásticas praticadas contra si. É certo que por ignorância ou esquecimento vamos retornando aos erros do passado, fazendo tudo de novo, como se o mundo girasse em um ciclo vicioso e sem a possibilidade de mudança de rota ou ritmo. Me pergunto: por que tudo volta a se repetir? E o mundo perguntaria a mim: e por que você repete as mesmas escolhas? E o pior é que sei que anteriormente tive atitudes erradas e tomei os caminhos que talvez não fossem os melhores naquele determinado momento.

Saberíamos nós precisar até que ponto poderíamos ir, na intenção de evitar o erro? Talvez fosse o erro a pedra fundamental de nossas mais geniais idéias, pois de certa forma, todos os pensamentos perfeitamente conexos e ordenados, nos levam a caminhos previsíveis e enfadonhos. A estratégia da perfeição transforma a vida em um manancial de pressões sobre nós mesmos. Viramos reféns de uma sociedade que acredita na hipocrisia do eterno acerto.

Se permitir ao erro pode ser uma forma de mudar, pois imaginar a vida como algo simples poderia nos levar ao suicídio, diante do tédio pela falta de mistérios. A dúvida é o que nos impulsiona a sair da cama todos os dias. Tornar as coisas mais difíceis, complicadas, é uma auto defesa. Sem dificuldades a raça humana já estaria exterminada.

Talvez eu estivesse tentando mudar o mundo com as próprias mãos. E desta forma não percebia como as nuances da vida estavam transformando seus tons diante de mim. Minha vontade incontrolável de mudança fazia de mim um ser cego. E na verdade permanecia estático, sem destino, sem perspectivas. Repetindo os mesmos erros do passado eu ia me martirizando e xingando o mundo, como se ele fosse o culpado e este era eu. Meu coração batia lentamente, no ritmo fúnebre das marchas de novembro. Não saía do lugar, não buscava uma solução, um caminho alternativo. Ano após ano e sempre as lamúrias de um destino já traçado. Perdas de um ser sem valores guardados. Já derrotado antes da batalha. Sem armas, estratégias, força, confiança. Eu era a parte sobrevivente de um exército sem soldados. A luta interna para superar meus medos, minha preguiça, era o adversário mortal, que sempre me desafiava. Mas só há guerra quando os dois lados duelam. Mas ali tínhamos uma disputa desigual. Eu não procurava me defender. Fazia da inércia minha desculpa. Culpava o destino, que não me sorria. Era um coitado sem opções, queria acreditar.

Mas a vida muda na velocidade do nosso coração. E a surpresa por ainda percebê-lo batendo: lento, mas com força, fez de mim um homem confiante, certo de que nesta minha jornada certos obstáculos estão apenas no pensamento. E é ali onde reside o maior perigo. Nosso inimigo íntimo. O sangue agora corria por todo o corpo, como se o estivesse conhecendo naquele momento. Aqueles caminhos desconhecidos do meu corpo recebiam o calor do sangue antes parado, sem rota. Agora ele sabia o caminho de ida e volta para um coração trabalhador.

Tenho em mim todas as ferramentas para a transformação. Todos temos. O caminho que nos leva a essa descoberta é o que chamamos de experiência. Poder ser aquilo que nunca antes se imaginou traz frescor aos poros de uma pele talvez ressecada pelo tempo. Então faço de meu corpo um instrumento da rebeldia humana, capaz de romper as regras do imaginável, de fazer o pensamento voar, cabendo a mim apenas transgredir.

Quantas vidas seriam necessárias para que o ser humano evoluísse plenamente? Seria possível em algum momento compreender aquilo que de nós se espera? Por que caminho devemos seguir? Eu seguiria em dúvida eternamente? Que sentimento nos move para frente? O que nos satisfaz? Para todo questionamento: o silêncio. Para cada busca pela verdade: a luz.

segunda-feira, 8 de março de 2010

CALOR, FRIO, CALOR...


Aquele janeiro tinha começado com tanto calor que nem dava para organizar os pensamentos de forma lógica. Sentia uma vontade incontrolável de ir à praia. Na televisão um jornalista dizia quais praias do Rio estavam aptas para o banho. O governo dita a quantidade de merda que somos capazes de suportar. Eu não me importava muito com isso. Estava com calor e necessitava acabar com aquilo. O suor saía de cada poro e a sensação do corpo colando me fazia sentir nojo.

Fui caminhando como que pelo deserto, quente, sedento e molhado. A água gelada do mar contrastava com o resto do mundo. O que me parecia após 40 dias ininterruptos de calor era que aquela sensação perduraria por toda a vida, que nada faria a temperatura cair, nem o inverno.

Mas o cinza do final do verão, disfarçado de inverno, foi me consumindo por dentro. Aos poucos essa ausência de cores e de vida foi contaminando cada canto da casa, levando minha alegria embora, meu sorriso, minha energia. Também há beleza nessa diferente forma de ver o mundo. Porém a chuva que pinga e lava as calçadas vai aos poucos minando cada esplendor. Viro refém da luz. Fico à espera de seu retorno: amarelo e forte, como só o sol sabe se mostrar. Não posso chamar de tédio ou marasmo. Por a culpa nos fatores externos...jamais! É só o mundo em equilíbrio. Aliás, isto talvez esteja em falta dentro da mente.

E nesse vai e vem do tempo: hora quente, hora frio, vou mudando de humor, repensando a vida. Minha constância é a mudança. Penso em começar tudo novamente. Porém não há recomeço do zero, pois as experiências do passado, erradas ou não, nos tornam pessoas diferentes. E cada experiência irá influenciar diretamente em nossas escolhas futuras. A vantagem que o tempo nos dá é poder refazer aquilo que de alguma forma foi equivocado um dia. O sol ou o cinza de cada manhã mostram que no mundo tudo pode ser feio ou belo, depende da forma que queiramos encarar a vida.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

POEIRA ESTELAR


Já quis ser estrela e ver lá de cima a história do mundo se passar. E quando eu não existisse mais, o mundo ainda estaria vendo meu brilho por milhares de anos. E quando nem mais um rastro da minha luz fosse vista em qualquer canto do universo, restaria ainda na memória de alguém, o brilho de outrora. Mas isto seria covardia. Cada ser precisa protagonizar sua história.

A intenção da eternidade não pode estar ligada à materialidade e sim ao sentimento que deixamos nos corações das pessoas, que são como sementes em solo fértil. Só o bem é eterno. E assim vamos fazendo com que nossa existência valha a pena, tenha um sentido próprio.

O prazer de pensar em toda a vida que há pela frente pode de alguma forma nos transformar e, assim, fazer perceber que nem tudo está perdido. Este imediatismo que nos ronda diariamente faz da vida algo pesado. Eu me cobro a todo momento sobre um futuro incerto e vejo que no passado já fiz isso e de nada adiantou. Preocupações inúteis? Creio que não. É isso que nos faz seguir em frente. Quando tudo está calmo é que devemos nos preocupar.

Preciso do frio na barriga a cada dia, para me manter alerta, sábio dos riscos de colocar o pé fora da cama. Não é fácil acordar e pensar que mais um desafio deverá ser travado todos os instantes. Isso faz parte do grande jogo da vida. Poder decidir que caminho tomar é um privilégio. O livre arbítrio não pode ser um fardo e sim um presente, o maior que poderíamos receber.

Penso que dentro de mim pode habitar talvez um ser desconhecido. Aos poucos, durante a vida, outros eus vão se revelando, me modificando quase que por inteiro. O estranho é perceber que mesmo assim continuo o mesmo. Uma mutação que me faz igual.

Desta vida de incertezas creio levar apenas os sentimentos. O que permanecerá de mim na Terra serão sorrisos e lágrimas, estendidos pelos rostos alheios. A energia se dissipará pelo espaço, voltarei a ser poeira estelar, pedaço de uma explosão sem limites.


Imagem: CHAGALL, Marc.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

DESTINO


Sou feito de matérias desconhecidas, da reunião de moléculas em uma seqüência quase indecifrável, que faz de mim um ser único. Sei exatamente de onde vim, mas não faço idéia para onde estou indo. Vou descobrindo aos poucos meu destino, fazendo do passado o meu livro de histórias. Não sei se alguém se interessaria em lê-lo. É interessante até, mas ainda faltam muitas páginas a serem escritas. Não gostariam de ler uma obra inacabada.

O encantamento verdadeiro nunca cessa, mesmo que mude de intensidade. Algo que um dia foi admirado, jamais perderá totalmente a magia. O bom da vida é perceber que a oscilação de sentimentos faz parte do plano do lúdico e não da razão. Nunca se deixe levar pelo pragmatismo da vida adulta, creia nos seus sentimentos de infância, eles podem te trazer surpresas inimagináveis com o tempo. O que escrevo pode parecer sem sentido próprio, mas possui uma seqüência lógica simples e será de fácil entendimento para aqueles que acreditam no destino.

Fui buscando em meu livro imaginário por momentos marcantes que ajudaram a forjar o ser que sou hoje. Cada segundo tem sua importância, porém alguns fatos são preponderantes nas decisões de caminhos, sentimentos, respostas e perguntas. E lá no fundo fui visitar um mundo mágico, cheio de dúvidas e descobertas, onde a ansiedade, os hormônios, a inocência eram meus principais guias.

Sentia uma vergonha não sei de quê, uma inquietação não sei de onde, um amor não sei pra quem. Tudo muito confuso, indeterminado. E mesmo assim eu conseguia identificar um olhar diferente em meio à turbulência. Um sorriso em alegria de criança que era diferente de todos. Destino? Talvez. Só o tempo poderia dizer. E assim fui crescendo e deixando aquele olhar escondido lá no passado. Quem sabe algum dia poderia voltar a mirá-lo novamente...

Nunca perdi o olhar de vista, mas não o tinha mais por perto. Já não sabia quem era essa pessoa, o que sentia, quais eram seus anseios, suas angústias. Eu divagava sobre essas dúvidas e na certa errava ao julgar o que eu não tinha idéia do que era. Talvez isso tenha causado um afastamento estranho, sem motivos. Poderia ser um mecanismo de defesa pessoal, sei lá.

Mas a vida sempre volta ao ponto de onde partimos. Refazemos caminhos para que possamos aproveitar melhor a caminhada.

Um sorriso puro e sincero foi o suficiente para perceber que ali ainda estava quem eu conhecia. A mesma pessoa. Nada é capaz de apagar aquilo que vem carregado de verdade. Ninguém poderia me convencer de que seria possível tal reencontro. E foi. Sem a programação engessada dos tempos modernos, fui sendo levado pelas circunstâncias e mais do que isso: pela vida vivida.

Aquele olhar agora já fazia parte do mundo real. E nada poderia me desviar, tal qual uma cobra hipnotizada. Fui sonhando e vivendo, caminhando e sorrindo, admirando e sentindo. O destino estava fazendo seu papel: me mostrava que a vida surpreende por sua grandeza de possibilidades. Meus sentimentos de infância agora eram realidade adulta.

Tudo tem sua hora e forma de ser. Por mais que tentemos mandar, a natureza e o tempo são mais fortes do que qualquer pensamento em controlar os fatos. Não existe passado, presente ou futuro separados. É o tempo. Por isso o passado não ficou para trás, ele está me acompanhando e mostrando estar mais presente do que nunca.


Imagem: "The Kiss"(foto símbolo do fim da II Guerra Mundial)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

QUASE TUDO ME EMOCIONA


Quase tudo me emociona. Fico impressionado com o mundo a cada instante. Ele me dá provas de que é um ser astuto, cheio de surpresas.

As nuances de um dia quente ou frio podem mudar meu humor de um jeito inimaginável. Posso parecer entusiasmado ou quieto a qualquer momento. Nada que assuste. Depende do que o mundo estiver a me oferecer.

Num emaranhado de arquivos no computador fui lendo aquilo que deixei no passado, sem publicação ou lembrança. Comecei a acompanhar pontuações de uma vida cheia de falas, pensamentos desconexos, mas que de alguma forma faziam sentido. Passei a me conhecer melhor olhando meus sentimentos com o ar superior de um observador externo. Minha biografia não autorizada e que somente eu tinha acesso.

Senti minha constante tentativa de entender as loucuras da vida, o porquê de tudo a minha volta, o porquê de mim.

Já fui mais ansioso, mais tenso. Talvez o tempo tenha me ensinado a separar frustração e decepção de medo. O temor pelo fracasso sempre me fez mais fraco, vulnerável. E como se quisesse me dizer algo, o tempo me mostrava que tudo tinha sua hora e intensidade. Algo novo pode acontecer a todo tempo. Basta estar atento para perceber o surgimento de oportunidades.

O medo me faz não seguir em frente em situações tão banais como iniciar um texto, sair de casa para resolver problemas do cotidiano ou pedir desculpas.

Orgulho maldito esse que me impede admitir aos outros o erro. Reconheço apenas para mim mesmo. É complicado falar ao mundo de nossos fracassos.

Assim como é tão complicado analisar a eficiência de nossas escolhas. Sempre fica a impressão de que poderia se escolher um outro caminho mais atraente. É mais fácil admirar o que não temos do que aproveitar aquilo que escolhemos para nós.

Desse jeito vou mentindo para mim, esquecendo daquilo que me machuca, sentindo ser o que nunca fui, porém sendo o de sempre. Não se pode viver da verdade a todo momento. O ser humano não está preparado para tudo o que mundo tem a lhe dizer.


Imagem: Vermeer, Johannes(Girl With a Pearl Ring)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SALINGER


Hoje li sobre Salinger e neste texto disseram que ele foi o inventor da adolescência como a conhecemos hoje. Eu diria que ele foi um dos maiores colaboradores para este conceito de época conturbada que reside entre a infância e a vida adulta. Outros autores como John Fante e Bukowski também contribuíram. Talvez pela verdadeira forma de expor as próprias chagas, mostrar ao mundo como é complicado não saber exatamente o que quer, o que é, o que quer ser.

Salinger foi um dos mais obscuros literatos de toda a história. Se refugiou em seu sítio em 1963 e de lá não mais saiu, não mais publicou. Me senti órfão no dia em que descobri já ter lido todos os seus livros. Por que ele não queria mais me contar suas histórias? Era uma forma de não me sentir sozinho no tempo e no espaço. Havia alguém no universo que me entendia perfeitamente e tinha coragem de explicar o que se passava. E parou.

Daí veio Fante e Bukowski e mais tarde Pedro Juan Gutierrez em minha vida. Todos sujos, pobres, sem medo de exporem as feridas abertas. Estes homens escrevem com as tripas. Sofrem a cada frase, mas sofreriam mais ainda sem elas. A escrita para mim tem o mesmo significado. Me fere, mas me mataria caso não saísse de mim. Escrevo também por prazer, no entanto principalmente por necessidade. As palavras me saem aos borbotões, ganham vida própria, às vezes até penso que não são minhas. E não são mesmo: pertencem ao mundo. Cada um faça seu julgamento sobre elas.

E talvez tenha sido esse o motivo da reclusão de Salinger. Aceitar o julgamento alheio era demais para ele. Avesso aos holofotes, ele sentiu na pele o que Caufield mais abominava: a opinião formada dos adultos, que sempre tinham algo a dizer sobre tudo e nunca diziam nada com nada. Ele foi Caufield a vida inteira, um desajustado e temos sorte por isso. Através de suas palavras, hoje temos o prazer de desfrutar de obras como “Nos embalos de sábado à noite”, “Juno”, “Albergue Espanhol”, “The Outsiders”, “Amèlie Poulain” e tantos outros.

Sem se despedir, agora Salinger foi viver em seu campo de centeio.

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