sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

HAITI


Um silêncio que deve ter durado menos de um segundo. Mas um silêncio assustador, daqueles que precedem grandes catástrofes. E então o primeiro estrondo. Debaixo dos pés vinha uma força nunca vista. O mundo estava virando ao contrário. Não tinha como ter noção do que estava acontecendo. Os corpos se debatiam sem que qualquer pessoa pudesse fazer alguma coisa para evitar. Ao redor, pedaços de parede, laje, tudo caía. O que na verdade eram apenas 30 segundos, pareciam horas. O caos fez com que o tempo mudasse seu curso e passasse lentamente, como que no intuito de nos fazer registrar cada instante da tragédia. O famoso “filme” da vida passava diante dos olhos. Será que a hora derradeira já tinha chegado? Lutar pela vida era mais importante.

E então um novo silêncio. Este parece ter durado mais tempo. Mas os gritos e pedidos de socorro ecoaram por todo espaço. Ainda havia vida. Havia também desespero, dor, sofrimento.

Talvez tenha sido assim naquela trágica terça-feira em Porto Príncipe. A única certeza que tenho é da tristeza de um povo que já sofre com tantas outras adversidades, fazendo de seu país o mais pobre do continente americano. Sofrer parece ser o único modo de vida desta população tão miserável.

Há seis anos atrás a seleção brasileira de futebol esteve lá para promover um jogo de paz. Até hoje me emocionam as imagens dos jogadores andando em tanques de guerra e sendo adorados por aquelas pessoas como se fossem deuses. Mas dentro de um lugar que às vezes parece esquecido por Deus, aqueles homens, que se lembraram deles, que se importaram com eles, eram sim deuses. Traziam um pouco de alegria a rostos acostumados apenas com lágrimas.

Vendo as imagens pela televisão é tão difícil entender como mesmo em meio ao caos total, tanta gente ainda lute pela vida. Por que viver em um mundo de fome, dor e descaso? Aí entendemos que a vida é muito maior que tudo isso.

Podemos dizer que em todo o Brasil também iremos encontrar miséria, sofrimento e dor, mas nada pode se comparar a tantos corpos jogados pelas ruas, a total falta de recursos e mantimentos. A importância de uma vida é igual em qualquer parte do mundo. E por isso também devemos pensar e rezar pelo Haiti, parafraseando Caetano. E também pelo desabrigados de Angra, Santa Catarina, Índia, Afeganistão, Iraque, não importa quão distante. Peçamos pela vida, pela paz, pelo amor. E só assim conseguiremos superar tantas catástrofes.

Apesar de tudo, ainda é bom viver nesse mundo.

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3 comentários:

  1. Adorei o texto!
    Estou te seguindo, dá uma olhadinha no meu http://garota-antenada.blogspot.com/ , falo de tudo um pouco mesmo.
    bjos

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  2. Sem palavras. É muito sofrimento, mas não devemos desistir da vida nunca.

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  3. Já é considerado o maior desastre natural da história da humanidade. Mais de 200 mil mortos. Não dá para imaginar o que é isso.

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