terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SALINGER


Hoje li sobre Salinger e neste texto disseram que ele foi o inventor da adolescência como a conhecemos hoje. Eu diria que ele foi um dos maiores colaboradores para este conceito de época conturbada que reside entre a infância e a vida adulta. Outros autores como John Fante e Bukowski também contribuíram. Talvez pela verdadeira forma de expor as próprias chagas, mostrar ao mundo como é complicado não saber exatamente o que quer, o que é, o que quer ser.

Salinger foi um dos mais obscuros literatos de toda a história. Se refugiou em seu sítio em 1963 e de lá não mais saiu, não mais publicou. Me senti órfão no dia em que descobri já ter lido todos os seus livros. Por que ele não queria mais me contar suas histórias? Era uma forma de não me sentir sozinho no tempo e no espaço. Havia alguém no universo que me entendia perfeitamente e tinha coragem de explicar o que se passava. E parou.

Daí veio Fante e Bukowski e mais tarde Pedro Juan Gutierrez em minha vida. Todos sujos, pobres, sem medo de exporem as feridas abertas. Estes homens escrevem com as tripas. Sofrem a cada frase, mas sofreriam mais ainda sem elas. A escrita para mim tem o mesmo significado. Me fere, mas me mataria caso não saísse de mim. Escrevo também por prazer, no entanto principalmente por necessidade. As palavras me saem aos borbotões, ganham vida própria, às vezes até penso que não são minhas. E não são mesmo: pertencem ao mundo. Cada um faça seu julgamento sobre elas.

E talvez tenha sido esse o motivo da reclusão de Salinger. Aceitar o julgamento alheio era demais para ele. Avesso aos holofotes, ele sentiu na pele o que Caufield mais abominava: a opinião formada dos adultos, que sempre tinham algo a dizer sobre tudo e nunca diziam nada com nada. Ele foi Caufield a vida inteira, um desajustado e temos sorte por isso. Através de suas palavras, hoje temos o prazer de desfrutar de obras como “Nos embalos de sábado à noite”, “Juno”, “Albergue Espanhol”, “The Outsiders”, “Amèlie Poulain” e tantos outros.

Sem se despedir, agora Salinger foi viver em seu campo de centeio.

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Um comentário:

  1. Você não é dessa época, eu acho q vc veio para esse século através do túnel do tempo.

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