Às vezes nos despedimos para sempre de alguém que
continuaremos vendo. O adeus ocorre sem palavras em um abraço que talvez nunca
será lembrado, em uma tarde de outono na estação do metrô. Este não será o
adeus contado pelo casal. Na história ficará marcada a noite de 2 meses depois
em que ela o avisou por SMS que tinha deixado as coisas dele na portaria do
prédio. Entre tulipas de chopp será contado e recontado. Assim será até quando
uma estudante de cinema da PUC, com jeito de menina parisiense o levar a sonhar
novamente. O processo se reiniciará até que o porteiro de um outro prédio venha
a ser o portador das lembranças de uma outra acabada e confusa história de
amor.
O homem se separa e continua encolhido em um canto da
cama. Sem que ele saiba, seus braços a procuram na madrugada vazia. Em vão.
Havia amor no riso, assim como havia pesar no beijo.
Aquele que seria o último, que faria da despedida um hiato na existência, pois
amores deixam vazios que depois são preenchidos com lembranças a serem
contadas.
O cheiro dela permanecerá e quando caminhando
distraidamente pela Ataulfo de Paiva ele cruzar com uma mulher de igual
perfume, terá por ela uma atração repentina que se dissipará rapidamente junto
com o aroma que se perde sem deixar rastro.
Na caixa deixada na portaria poucos objetos: uma
toalha, um barbeador elétrico, duas cuecas, uma bermuda, um jeans, três
camisas, um par de havaianas, um Ray Ban e um porta-retrato com a foto da
primeira viagem que fizeram juntos, para Búzios. O que restou da relação cabia
em uma caixa que um dia trouxe um aparelho de DVD novo. Ele que foi comprado
pelos dois para preencher as noites de chuva no apartamento, com pizza e
refrigerante. O aparelho está esquecido. Perdeu o emprego para o Blu Ray.
Não costumamos perceber as despedidas. Quando se diz
“adeus” é porque o fim já aconteceu há muito tempo. O momento derradeiro de
verdade se faz no último beijo com resquícios de paixão. Por que não paramos
por aí? Seguimos...
A mulher certo dia o viu sair do apartamento e teve
certeza de que seu namorado nunca mais voltaria. O homem que adentrara dez
minutos depois já não era mais o mesmo, era outro com quem ela ainda transaria
mais algumas vezes, em um sexo sem sentido na tentativa de resgatá-lo, de fazer
o namorado novamente entrar pela porta do apartamento. Já não seria mais
possível. Ele tinha ido sem olhar para trás e dizer tchau.
Haverá pesar na despedida. A dor sentida não será mera
formalidade de luto e sim a amputação de um pedaço de si. Algo que por um tempo
julgou ser imprescindível. E era. Estar ao lado não quer dizer estar junto.
Assim como eles, são tantos casais, que de mãos dadas estão mais separados do
que qualquer distância poderia fazê-los.
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