Tenho mania de conversa. Esse gosto “estranho” de entender
um pouco mais o outro, na busca de entender a si próprio. Se me dão uma brecha,
lá vou eu. Claro que entendo o limite da inconveniência, da chatice, da
intromissão. Deixo fluir. Se rolar, rolou.
Foi dessa forma que conheci Emerson e Maykon em uma segunda-feira
de carnaval carioca. Dois brasileiros bem pobres, com realidades bem próximas,
com histórias que poderiam se cruzar.
De um lado, um pai. Do outro, um filho.
O pai Emerson, caminhava com um isopor quase vazio nas ruas
da Lapa. Nos ofereceu algo para beber. Não queríamos nada naquele momento, mas
ele nos falou seu bordão com as promoções e começamos a gritar igual, como se
também estivéssemos vendendo. Oferecíamos a quem passasse e assim fomos fazendo
companhia um ao outro em direção à Praça da Cruz Vermelha.
Emerson mora em Paracambi. Para chegar à Central do Brasil
às 7 horas da manhã, tem que pegar o trem às 3h.
Está desempregado.
Deveu a pensão a pensão da filha por 3 meses. Está separado
há 2 anos. Sofreu por ver a filha pedir dinheiro e não ter 10 centavos no
bolso.
Passou 3 dias na Lapa durante o carnaval, dormindo sob os
arcos, para vender o máximo que pudesse. Comprava no depósito de bebidas ali
perto e revendia nas ruas movimentadas do bairro boêmio.
Viu outro vendedor, que também viveu na rua esses dias,
levar uma facada numa tentativa de assalto enquanto dormia.
Emerson voltava com o rosto cansado, mas feliz por saber que
pagaria a pensão da filha. Disse ter contado com a compreensão da ex-mulher,
que assim como tantas mulheres neste país, guardam a responsabilidade pela
criação e sustento dos filhos, muitas vezes sem qualquer participação paterna.
Emerson não queria troféu algum. Sabia que era o mínimo a fazer. Iria
diretamente para a casa delas para entregar todo o dinheiro que conseguiu
naqueles dias.
Algumas horas depois, encontrei Maykon. Aparentava seus 16,
17 anos. Estava com os pais no Largo da Carioca. Não sei de onde vieram. Mas
dormiram bem ali no berço da cidade do Rio também por 3 dias também. Vendiam
cachorro quente. O dinheiro aliviaria a pobreza.
Maykon estava extenuado. Não queria mais dormir na rua.
Aquela seria a última noite, disse ele. Voltariam para casa. Teriam algum descanso,
talvez.
Ali estavam dois exemplos dentro de outros milhões de
invisíveis.
Invisíveis pobres, sem instrução, sem oportunidades,
desempregados e famintos. Ainda assim esperançosos de um dia melhor.
Não há como romantizar suas histórias. Eles são a realidade.
São aquilo que não buscamos entender, ouvir, perceber. Vivem de sobreviver.
O carnaval deles é outro.
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